sábado, 21 de setembro de 2013

PORTAS ABERTAS E FECHADAS

Marcos 6.1-29.

INTRODUÇÃO
O capítulo 5 de Marcos apresenta o triunfo da fé, enquanto o capítulo 6 registra a tragédia da incredulidade. O capítulo 5 de Marcos é um marco luminoso do poder de Jesus no meio da escuridão da miséria humana. Vemos nele o triunfo de Cristo sobre o diabo, a doença e a morte. Agora, no capítulo 6, vemos a incredulidade dos nazarenos, de Herodes e dos próprios discípulos. 
Vamos considerar três situações: portas fechadas pela incredulidade, portas abertas pela proclamação do evangelho e portas fechadas pelo drama de uma consciência culpada.

I. PORTAS FECHADAS PELA INCREDULIDADE – v. 1-6

Quatro fatos dignos de nota com respeito à incredulidade do povo de Nazaré:
Em primeiro lugar, a inexcusabilidade da incredulidade. Nesse tempo Jesus já havia se manifestado plenamente ao mundo. Havia operado muitos milagres em Cafarnaum, há trinta quilômetros de Nazaré.
Em segundo lugar, a causa da incredulidade. O povo tornou-se incrédulo por causa da origem de Jesus. Viam-no apenas como o carpinteiro, filho de Maria, cujos irmãos e irmãs eles conheciam. Além do mais, Jesus não tinha estudado nas escolas rabínicas e eles não podiam explicar seu conhecimento nem seu poder.
Em terceiro lugar, a reprovação da incredulidade. Jesus disse que um profeta não tem honra em sua própria terra. Seus irmãos não creram nele. Sua cidade não creu nele. Os líderes religiosos não creram nele. A familiaridade em vez de gerar fé, produziu preconceito e incredulidade.
Em quarto lugar, a conseqüência da incredulidade. Jesus ficou admirado da incredulidade deles e ali não realizou milagres, em vez disso, deixou a cidade. Enfermos deixaram de ser curados e pecadores deixaram de ser perdoados por causa da incredulidade.

Vejamos alguns pontos de destaque neste texto:

1. Jesus oferece uma segunda chance à cidade de Nazaré
Jesus já havia sido expulso da sinagoga de Nazaré no começo do seu ministério (Lc 4.16-30). Naquela ocasião quiseram matá-lo, então, Jesus mudou-se para Cafarnaum. Agora, Jesus vai outra vez a Nazaré, dando ao povo uma nova oportunidade. Isso demonstra a misericórdia de Jesus, oferecendo ao povo uma nova oportunidade de arrependimento.
Nazaré era o povo mais privilegiado do mundo, pois ali o Filho de Deus havia passado sua infância e juventude, vendo os nazarenos muito de perto “a glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4.6). Por trinta anos Jesus andou pelas ruas de Nazaré e o povo contemplou sua vida irrepreensível, mas quando lhes anunciou o evangelho, eles rejeitaram tanto a mensagem como o mensageiro.
2. O perigo da familiaridade com o sagrado
A familiaridade com Jesus produziu preconceito e não fé. Nada é mais perigoso para a alma do que acostumar-se com o sagrado. Os nazarenos viram Jesus apenas como filho de Maria e como carpinteiro e não como o Filho de Deus. A origem e a profissão de Jesus foram obstáculos para os seus compatrícios, na religião a familiaridade gera o desprezo por causa da inveja.
3. O perigo do conhecimento divorciado da fé.
Eles fizeram três perguntas: donde vem a ele estas coisas? Que sabedoria é esta que lhe é dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Eles tinham a cabeça cheia de perguntas e o coração vazio de fé. Porque eles não puderam explicá-lo, eles o rejeitaram. O contraste entre o humilde carpinteiro e o profeta sobrenatural foi muito grande para eles compreenderem. Então eles escolheram a descrença, uma escolha que deixou Jesus admirado (6.6).
Jesus foi rejeitado também pelos seus parentes e membros da sua própria casa. Sua família chegou a pensar que ele estava fora de si (3.21) e seus irmãos não creram nele até sua ressurreição (Jo 7.5; At 1.14).
4. A incredulidade fecha as portas da oportunidade para Nazaré
Jesus não permaneceu em Nazaré. Ele foi adiante. Ele não insistiu em arrombar a porta. Nazaré perdeu o tempo da sua oportunidade. Portanto, Jesus seguiu adiante, procurando aqueles que pudessem responder aos seus milagres e à sua mensagem. Jesus deixou Nazaré pela segunda vez, e não há menção de que tenha voltado lá. A maioria das pessoas pensa quem tem ilimitadas oportunidades para crer, mas geralmente não há essa possibilidade.
5. A incredulidade de Nazaré fecha as portas para os milagres de Jesus.
A incredulidade rouba do povo as maiores bênçãos. Jesus não pôde fazer em Nazaré muitos milagres, antes ficou admirado por causa da sua incredulidade. O que significa este “Jesus não pôde?”. Certamente isso não significa limitação do poder de Jesus, pois nada, nem ninguém pode limitá-lo, mas implica que Jesus não estava disposto a fazer milagres onde as pessoas o rejeitavam por preconceito e incredulidade. A incredulidade traz morte ao mundo. A incredulidade manteve Israel afastado da terra prometida por quarenta anos. A incredulidade é o pecado que especialmente enche o inferno. “Quem não crer será condenado” (16.16). Pior de tudo, a incredulidade é o pecado mais comum no mundo.

II. PORTAS ABERTAS PARA A SALVAÇÃO

1. Jesus amplia o ministério comissionando os apóstolos
Jesus não chamou os apóstolos apenas para estarem com ele, mas também para enviá-los a pregar e a expelir demônios (Mc 3.14-21). Agora, que já estão treinados, eles são enviados. Eles estão indo em nome de Jesus, com a autoridade de Jesus, levando a mensagem de Jesus, como uma extensão da sua própria missão. Quem receber um desses mensageiros recebe a Jesus (Mt 10.40).
2. Jesus deu aos apóstolos a mensagem
Quando os apóstolos saíram a pregar aos homens, não criaram a mensagem: levaram a mensagem. Não levaram aos homens suas opiniões, mas a verdade de Deus.
                                                        
Os apóstolos focaram a missão em três áreas distintas:
Em primeiro lugar, eles pregaram arrependimento. A mensagem do evangelho começa com o arrependimento. Arrepender-se significa mudar de mente e logo adaptar a ação a essa mudança. O arrependimento não é lamentar-se sentimentalmente; é algo revolucionário; por isso são tão poucos os que se arrependem. Devemos chamar as pessoas ao arrependimento se queremos seguir as pegadas dos apóstolos. E impossível alguém entrar no Reino dos Céus sem passar pela porta do arrependimento.

Em segundo lugar, eles curaram os enfermos ungindo-os com óleo. Os apóstolos pregaram aos ouvidos e aos olhos. Falaram e fizeram. Proclamaram e demonstraram. Eles tinham palavra e poder. A salvação é uma bênção que se estende ao homem integral, corpo e alma. Os apóstolos ungiam os enfermos com óleo. O óleo tinha uma tríplice aplicação: era cosmético, remédio e símbolo espiritual. os discípulos usaram o óleo aqui não como remédio ou cosmético, mas como símbolo da presença, da graça e do poder do Espírito Santo, o óleo de oliva nunca opera dessa maneira”.
Em terceiro lugar, eles expulsaram demônios. A libertação faz parte do evangelho. O Messias veio para libertar os cativos. Ele se manifestou para libertar os oprimidos do diabo e desfazer suas obras. Todo Homem de Deus que quer “conquistar” pessoas para Deus precisa dominar o “espaço aéreo” sobre a fortaleza (Ef 6.12; Rm 15.19; 2 Co 10.4-6).
3. Jesus deu aos apóstolos a metodologia
As atitudes e ações dos apóstolos deviam reforçar a mensagem que eles iriam proclamar. Jesus ensinou alguns aspectos metodológicos importantes:
Em primeiro lugar, os apóstolos foram enviados de dois a dois.
Isso fala de mútua cooperação, mútuo encorajamento, mútuo ensino e também de credibilidade do testemunho. A bíblia ensina que é melhor serem dois do que um (Ec 4.9) e é pelo testemunho de duas pessoas que toda causa se resolve (Dt 17.6; 19.15; 2 Co 13.1).
Em segundo lugar, os apóstolos deveriam confiar no provedor e não na provisão. Eles não deveriam levar túnica extra, alforje nem dinheiro. Deviam confiar na provisão divina enquanto faziam a obra. Jesus estava lhes mostrando que o trabalhador é digno do seu trabalho. Jesus queria que eles fossem adequadamente supridos, mas não a ponto de cessarem de viver pela fé. Eles não deviam fazer da obra de Deus uma fonte de lucro.
Em terceiro lugar, os apóstolos deveriam ser sensíveis à cultura do povo. A hospitalidade era um dever sagrado no Oriente. Da hospitalidade faziam parte a saudação, levar os pés, oferecer comida, proteger e acompanhar na despedida. Os pregadores não podem violentar a cultura do povo ao pregar a eles a Palavra de Deus. O evangelho deve ser anunciado dentro do contexto cultural de cada povo.
4. Jesus ensinou que se devem aproveitar as portas abertas e não forçar as portas fechadas. Onde houvesse rejeição, os apóstolos não deveriam permanecer, ao contrário, deviam seguir adiante. Era preciso buscar portas abertas. Paulo orou por portas abertas e onde elas se abriam permanecia pregando, mas onde elas se fechavam, ele ia adiante.
5. Jesus alertou sobre o perigo de rejeitar o evangelho
Os apóstolos deveriam sacudir o pó de suas sandálias e considerar aquele território pagão. O que Jesus está dizendo, nesse texto, é que qualquer lugar, quer seja uma casa, vila, cidade ou vilarejo, que recuse aceitar o evangelho, deve ser considerado impuro, como se fosse um solo pagão. Não há salvação fora do evangelho. Não há salvação, onde a Palavra de Deus é rejeitada.

III. PORTAS FECHADAS COM AS PRÓPRIAS MÃOS

A família herodiana tem uma passagem sombria pela história. Era uma família cheia de mentiras, assassinatos, traições e adultério. Herodes, o grande foi um monarca insano, desconfiado e inseguro. Ele casou-se dez vezes, matou esposas e filhos. Mandou matar as crianças de Belém, pensando com isso, eliminar o infante Jesus, rei dos judeus.
Herodes Antipas era o filho mais novo de Herodes, o grande (Mt 2.1). Ele era chamado de rei, mesmo que o seu título oficial era “tetrarca” (Lc 3.19), o governador de uma quarta parte da nação. Quando Herodes, o grande morreu, os romanos dividiram seu território entre seus três filhos; e Antipas foi feito tetrarca da Peréia e Galiléia, aos dezesseis anos.
1. Herodes, um homem perturbado
Herodes temia João Batista vivo, mas agora, o teme ainda mais morto. Sua consciência está atormentada e ele não sabe como livrar-se dela. Ninguém pode evitar viver consigo mesmo; e quando o ser interior torna-se o acusador, a vida torna-se insuportável. Herodes está vivendo o conflito entre a consciência e a paixão.
Dois aguilhões feriam a consciência de Herodes, o assassinato de João Batista e o medo de haver ele ressuscitado. Herodias temia o povo, Herodes temia a João, mas este não temia nem a um nem a outro.
2. Herodes, o homem supersticioso
Herodes pensa que Jesus é João Batista que ressuscitou para perturbá-lo. Ele está tão confuso acerca de Jesus quanto à multidão da Galiléia. Sua crença está desfocada. Sua teologia é mística e supersticiosa. E uma teologia cheia de superstição traz tormento e não libertação.
 3. Herodes, o homem adúltero
Herodes Antipas era casado com uma filha do rei Aretas, rei de Damasco. Divorciou-se dela para casar-se com Herodias, mulher de seu irmão Filipe. Herodias era cunhada e sobrinha de Herodes. Era filha de Aristóbulo, seu meio-irmão. Ao casar-se com Herodias, Herodes cometeu pecado de adultério e incesto, violando assim a moral e a decência. O casamento do rei foi duramente condenado por João Batista. Ele não era um profeta da conveniência, mas voz de Deus quer no deserto quer no palácio. Estava pronto a ser preso e a morrer, não a calar sua voz.
4. Herodes, o homem conflituoso.
Herodes teme João, gosta ouvi-lo, respeita-o, mas prende-o. A voz de Herodias falava mais alto que a voz da sua consciência. Não basta admirar e gostar de ouvir grandes pregadores. Herodes fez isso, mas pereceu. Herodes e Herodias estavam tão determinados a continuar na prática do pecado que taparam os ouvidos à voz da consciência e mais tarde silenciaram o profeta, mas não conseguiu silenciar sua própria consciência culpada.
5. Herodes, o homem fanfarrão.
Herodes festeja com seus convidados e se embebeda. As festas reais eram extravagantes tanto na demonstração de riqueza quanto na provisão de prazeres. Homens, mulheres, luxo, mundanismo, bebidas, músicas profanas e danças, pecados e Satanás com seus emissários... Tudo estava presente, menos o temor de Deus. E é o que ainda hoje tristemente contemplamos na sociedade mundana, sem Deus, transviada e perdida.
Herodes fez promessas irrefletidas à filha de Herodias, a quem Josefo chama de Salomé e para manter sua palavra manda decapitar o homem a quem respeitava e temia. Herodes era um homem que agia por impulsos e falava antes de pensar.
Sua festa de aniversário tornou-se numa festa macabra.
6. Herodes, o homem que fecha as portas da graça com suas próprias mãos.
Herodes viveu no pecado. Não ouviu o profeta, prendeu o profeta, matou o profeta e endureceu ainda mais o coração. Jesus o chamou de raposa. Jesus esteve com ele face a face, mas ele zombou de Jesus. Foi exilado e morreu na escuridão em que sempre viveu. No ano 39 d.C., Herodes Agripa (At 12.1), seu sobrinho, o denunciou ao imperador romano Calígula, e ele foi deposto e banido para um exílio perpétuo em Lyon, na Gália, onde morreu.

CONCLUSÃO: 
O pecado não compensa. O prazer do pecado produz tormento eterno, fatos como esses, relembram-nos que as melhores coisas do verdadeiro cristão ainda estão por vir. Seu descanso, sua coroa, sua recompensa estão todos do outro lado da sepultura. Aqui neste mundo nós andamos por fé e não por vista. Aqui semeamos, trabalhamos, lutamos e sofremos perseguições. Mas esta vida não é tudo. Haverá uma recompensa. Há uma gloriosa colheita por vir. Há um descanso para o povo de Deus. O que nem um olho viu nem ouvido ouviu é que Deus preparou para aqueles que o amam.

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