· O tema “Disciplina na Igreja”
sempre gera certo desconforto, pois ameaça os conceitos pós-modernos de
individualismo, relativismo e liberdade de escolha que tem dominado nossa
cultura nos últimos tempos. Por conta disto, muitos têm optado por relevar e
permitir comportamentos pecaminosos dentro da igreja, evitando assim
impopularidade e aborrecimentos.
· Entretanto, a Bíblia, nosso guia de
fé e prática, é bem clara com relação à necessidade da aplicação da disciplina
na igreja local. E, alicerçados nos ensinos das Escritas Sagradas é que
afirmados que a igreja não pode ignorar ou ser complacente com práticas
contrárias à conduta cristã.
· A igreja do Senhor é
composta de pessoas chamadas para deixar o pecado e sair definitivamente do
império das trevas Cl 1:13. O desejo
de todo discípulo deve ser de manter a santificação a separação da iniquidade
para imitar e honrar o Mestre que o resgatou. As pessoas que fazem parte da
igreja de Deus foram chamadas “para ser santos” 1 Cor 1:2. O Senhor que nos chamou
disse: “Sede santos, porque eu sou santo” 1 Pd 1:16.
· Deus faz tudo para nos ajudar nas
batalhas contra a tentação (Rm 8:31-39)
e sempre oferece uma saída das ciladas do Adversário 1 Cor 10:13. Mesmo assim, falhamos. O apóstolo João escreveu aos
cristãos quando disse 1 Jo 1:8: “Se
dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade
não está em nós” .
· Uma igreja que respeita a vontade
de Deus não pode se entregar à impureza. Deve agir agressivamente para ser pura
e livre do pecado. Como?
I.
A NECESSIDADE DA DISCIPLINA
· O exercício da disciplina não é
opcional dentro do contexto da Igreja local, e precisa ser encarada como um
caminho indispensável em direção da vontade de Deus. Quando
negligenciamos o que a Bíblia diz a este respeito estamos abrindo mão da nossa
própria identidade perante o mundo e, por consequência, nos desprovemos da
autoridade necessária para a pregação do Evangelho. A Igreja é essencialmente
cristocêntrica, por isso não podemos aceitar aquilo que Cristo já condenou (Hb 10:28-29; 1 Co 6:15; 1Co 10:12).
· É certo que ninguém gosta de ser
disciplinado ou corrigido, mas a disciplina é antes de mais nada um gesto
de amor e uma ferramenta utilizada pelo próprio Deus para
ajudar seus filhos a se manterem no caminho direito (Hb 12:4-13; Ap 3:19; Ef 5:25-27).
· Todo nós somos pecadores e vale
ressaltar que a autoridade da disciplina não provêm daquele
que a aplica, mas daquele que a ordenou: Jesus Cristo, o Senhor e Cabeça da
Igreja (Ef 1:22-23; Hb 10:28-29).
· Não nos cabe alimentar um
espírito crítico e acusador. Mas Deus nos ordena a julgar “os de
dentro” (1 Co 11:31-32 e Ap 2:2, 14-15,
20). Portanto, a igreja que não aplica a disciplina em seu meio está em
desobediência direta à Palavra de Deus.
· UMA IGREJA SEM DISCIPLINA OCORRE 5 COISAS:
1.
Sem disciplina na
igreja o pecado se estabelece (1Co 5:1).
2.
Gera acomodação e orgulho (1Co
5:6).
3.
Contamina outros (1Co 5:7).
4.
Impede o fluir do Espírito Santo (Is
59:2; Rm 8:5).
5.
Envergonha o Evangelho (Rm
2:23-24).
II.
O PROPÓSITO DA DISCIPLINA.
ð A disciplina na igreja tem três principais
objetivos:
·
Glorificar o nome de Cristo. Cada igreja local é
parte do corpo de Cristo aqui na terra, e manter este corpo limpo e purificado
é a nossa missão (Ef 4:12-19).
·
Conduzir o transgressor ao
arrependimento e
total restauração (2Co 7:9-10; Mt 18:15; 1Co 5:5).
·
Preservar a reputação e pureza da igreja (1Co
5:6-8; 1Tm 5:20; Tt 2:13-15; At 20:28-31).
ð
As Atitudes
Necessárias Para Corrigir os
Irmãos que Pecam.
Observemos alguns princípios essenciais:
●
Devemos procurar o pecador e perdoar o irmão arrependido Lc 15:1-32.
Esta parábola bem conhecida repreende a auto-justiça do irmão mais velho, que
não desejava e não agia para incentivar a reconciliação do irmão desviado com
seu pai. Quantos “cristãos” de hoje mostram a mesma falta de amor?
● Cada
membro do corpo tem sua função para a edificação dos outros Ef 4:16. O trabalho de correção dos irmãos que pecam não se limita
aos pastores. Cada parte deve se cooperar na edificação mútua para o bem do
organismo todo.
● Os
irmãos mais fortes devem restabelecer “as mãos descaídas e os joelhos trôpegos” Hb 12:12-17. Ajudemos os fracos e desanimados para que não caiam nas mãos do
Inimigo.
● Uma
igreja não deve ignorar nem tolerar o pecado Ap 2:12-17. A principal queixa de Jesus contra a igreja de Pérgamo
foi a sua tolerância. Talvez exageraram no ensinamento de não julgar
(pervertendo o sentido de Mt 7:1-5)
a ponto de ignorar a necessidade de discernir entre o bom e o mau 1 Tss 5:21-22. É triste ver muitas
igrejas hoje cheias de pecado por falta de amor, amor de Deus e amor ao
próximo. As instruções de Deus a Ezequiel mostram a importância da correção dos
pecadores Ez 3:16-21.
III. TRÊS NÍVEIS GERAIS DE AÇÃO COM
RELAÇÃO AO PECADO.
1) ENSINO
E ADMOESTAÇÃO.
· Tudo que contraria os mandamentos
de Deus é pecado e, nesse sentido, não existe diferença entre pecado pequeno ou
um grande pecado. Ambos agridem igualmente a santidade de Deus e quebram a
nossa comunhão com Ele. Entretanto, em várias ocasiões a Bíblia demonstra que
existe diferença entre pecados no sentido de uns serem mais graves que outros.
Ex: cisco e trave (Mt 7:1-5),
pecados que são e que não são para a morte (1 Jo 5:16), pecado menor e maior (Jo 19:11).
· Podemos classificar como “pecados
menores”, aqueles que são próprios da fraqueza humana, e que a grande
maioria dos mortais comete diariamente, tais como aspereza, impaciência,
murmuração, omissão, irritabilidade, ansiedade, falar demais, egoísmo, etc.
· Tais atitudes são contrárias às
instruções bíblicas, mas sem muita gravidade, por isso não requerem medidas
disciplinares. A estas, a Bíblia nos incentiva a sermos compassivos e
tolerantes uns com os outros, perseverando na instrução, e advertindo quando
necessário (Rm 15:1; 1Pe 4:8; Cl 3:16; 2
Tm 3:16).
2) CONFRONTO
E DISCIPLINA.
· Se a transgressão cometida for
grave, mas não a ponto de exigir o desligamento do rol de membros, a pessoa
deverá receber o devido cuidado pastoral sem a necessidade de se levar o caso à
igreja. Pecados como: fofoca, insubordinação, brigas, linguagem obscena,
desonestidade, mau comportamento, adultério... Requerem algum tipo de disciplina,
mas se a situação não tiver se tornado público deverá ser cuidado de maneira
velada e sem escândalos, preservando-se a pessoa e a igreja (1Ts 5:14; 2Tm 2:24-26; 2Tm 4:14-15; Tt
1:9-11; Tg 5:20).
· A pessoa que cometeu o pecado
deve ser levada ao arrependimento e ser acompanhada de perto
por um pastor ou líder espiritual, que a orientará no processo de restauração.
Este processo poderá envolver: sessões de aconselhamento, estudos bíblicos,
prestação de contas, remoção das funções ministeriais e da comunhão na Ceia,
etc. Nestes casos, é essencial que a liderança da igreja aja em concordância,
com discernimento, sabedoria, responsabilidade, sobriedade e em espírito de
oração, tratando de cada situação individualmente.
· No caso de pecados e ofensas
entre duas pessoas (insultos, calúnia, furto, violação de contrato,
etc), a Bíblia ordena que ambas procurem primeiramente resolver a questão entre
si. Se a pendência for satisfatoriamente solucionada, o caso é encerrado e não
há necessidade de se levar o assunto adiante (Mt 5:23-24; Mt 18:15-22).
·
Quando um irmão peca
contra outro, devemos fazer o que Jesus mandou Mt 18:15-17
1. Falar
em particular com a pessoa que nos ofendeu.
2. Se
ela não aceitar a correção, devemos tentar de novo, levando uma ou duas
testemunhas.
3. Se ela ainda não se arrepender, devemos levar o caso à
igreja, que também deve repreender o ofensor. Se a pessoa for rebelde até esta
última etapa, devemos nos afastar dela. Por outro lado, se o ofensor se
arrepender, em qualquer momento, devemos perdoar e nos reconciliar, certos de
que Deus, também, perdoa o arrependido.
Estas
instruções de Jesus proíbem a prática comum de espalhar notícias dos erros
particulares dos outros, sem primeiro falar com eles para ajudá-los Pv 20:19; 26:20-22.
ð
A Correção do
Irmão que Cai no Pecado.
·
Quando sabemos
de pecado na vida de um irmão, devemos agir. Os espirituais devem corrigi-lo com brandura Gl 6:1. Também sofremos com as fraquezas
humanas, e devemos ser compreensivos na abordagem do pecador. Mas a nossa
compreensão não justifica o pecado, e não deve se tornar tolerância ou
aprovação. Ajamos com brandura, mas corrijamos!
● A
conversão do irmão de seu pecado é a salvação de sua alma Tg 5:19-20; Pv 24:11.
● Há
casos em que a correção pública é necessária 1 Tm 5:20; Gl 2:11-14.
Alguns pecados públicos, se não corrigidos diante das outras pessoas, poderão
levar outros ao mesmo erro. É desagradável, mas necessário, responder publicamente
aos erros de alguns irmãos.
3) DESLIGAMENTO
DO ROL DE MEMBROS.
· Todo pecado deve ser corrigido,
mas há casos específicos em que a Bíblia nos orienta a levar o caso para
o conhecimento da igreja e a romper a comunhão cristã
com o transgressor. É a forma de disciplina mais drástica e deve ser adotada
apenas em situações igualmente drásticas (1Co
5:1-13; 2Jo 1:9-11; Tt 1:16; Tt 3:10-11; Gl 5:19-21).
· Revelar à igreja a transgressão
de um de seus membros não pode ser considerado, de forma alguma, uma “violação
de segredos”. Nestes casos Deus ordena que declaremos à igreja o pecado
cometido, não só para a oficialização pública da disciplina, mas
para que todos orem pelo pecador, vigiando também a si mesmos (Mt 18:17; 1Tm 5:20).
· Deve ser levado a este tipo de
disciplina todo comportamento pecaminoso que causa dano à unidade, à
integridade doutrinária e à pureza ou à reputação da igreja como um todo. Mesmo
que a pessoa se declare arrependida, o pecado já se tornou público, portanto
convém que o desligamento seja efetuado a fim de se preservar a imagem da
Igreja e do Evangelho de Cristo.
· Membros da igreja, que se dizem
cristãos, mas são conhecidos publicamente por pecados tais
como: imoralidade sexual, embriaguez, apostasia, estelionato, crimes contra a
sociedade, etc, devem ser retirados da comunhão da igreja. Tal procedimento
deve ocorrer após uma comunicação por parte do pastor da igreja ou de um líder
espiritual com autoridade pastoral, e vir acompanhado de amor, admoestação e
convite ao arrependimento.
· Exemplos bíblicos de transgressões que devem ser disciplinadas
com o desligamento:
· Aquele que se recusa a abandonar
o erro mesmo depois de ser exortado em amor várias vezes (Mt 18:16-17).
· Pecados que trazem escândalo à
igreja (1Co 5:1-13).
· Os que ensinam doutrinas
contrárias ao Evangelho (1Tm 1:20).
· Os que causam divisões na igreja (Rm 16:17-18).
· Aqueles que andam
desordenadamente (2Ts 3:6-15).
· Os que deixam de participar dos
cultos, por um período prolongado (um ano, em média) e de forma deliberada, sem
um motivo legítimo (Hb 10.24-25).
O
desligamento de um membro da igreja em casos extremos é o cumprimento da ordem
direta do próprio Cristo, que nos ensina a considerar o transgressor como “gentio”
(a quem não era permitido entrar nos átrios sagrados do templo) e “publicano”
(considerados traidores e apóstatas) - Mt
18:17; Rm 2:21-24; 1 Tm 1:20 e Tt 3:10-11.
O membro
que é disciplinado com o desligamento perde seus privilégios como membro da
igreja de participar da Ceia, atuar em um ministério ou votar nas assembleias.
Cabe à liderança da igreja oferecer, à pessoa que foi desligada, um acompanhamento
pastoral cuidadoso, com visitas, estudos bíblicos e atividades que
contribuam para sua cura e restauração.
Obs:
segundo firmado em Estatuto Social, sendo a Igreja local uma associação, tem
todos os direitos éticos e legais de desligar um membro que tenha
incorrido em alguma falta grave (acima citadas), numa conduta que esteja
em desacordo com os preceitos bíblicos, após aprovação mediante votação em
Assembléia Administrativa.
IV.
COMO TODA DISCIPLINA DEVE SER APLICADA.
·
Com amor (Jo
13:34-35; Rm 12:10; 1Jo 4:7-8).
·
Em
espírito de mansidão e humildade (Gl 6:1; Fl
2:3).
·
De imediato, logo
que o pecado é descoberto (Mt 5:25; Hb 13:13-15; Tg 4:17).
·
Mediante
o testemunho de duas ou três testemunhas idôneas (Mt 18:16;
1Tm 5:19).
·
Sem parcialidade ou acepção de pessoas (Cl 3:25; Tg 2:9; 1Tm 5:21).
V.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES.
Disciplina é sempre um ato
de amor.
É
preciso perdoar sempre, mesmo quando não houver
arrependimento. Mas perdoar não significa aceitar um determinado erro.
A
igreja não deve desistir de quem foi disciplinado.
· A disciplina precisa estar calcada
em princípios e valores bíblicos e não em pensamentos humanos
ou costumes culturais. Em alguns casos, o que pode ser entendido como pecado
para uns pode não ser para outros. E necessário muito amor e discernimento
espiritual para agir em cada caso.
· Cuidar para que o ato disciplinar
não seja, em hipótese alguma, fruto de partidarismo, legalismo extremo ou
capricho. Milhares de pessoas, ao longo da história do Cristianismo, sofreram
feridas profundas como resultado de terem sido disciplinadas injustamente.
· O membro que foi disciplinado ou
desligado do rol de membros terá sua reintegração aceita pela
igreja logo após o término do processo de restauração, que envolve:
1)
Confissão (Tg 5:16).
2)
Arrependimento (Mt 3:8).
3)
Abandono do pecado (Rm 6:2-22).
4)
Mudança de atitude (Ef 4:20-32).
5)
E, em alguns casos, a restituição (Rm
13:7-8).
Infelizmente,
algumas pessoas não estão prontas para aceitar a disciplina e, ao serem
disciplinados decidem abandonar a igreja. Outros a rejeitam, acusando a igreja
de discriminação ou injustiça. Entretanto, é o pecado que gera rebeldia e
dureza de coração, e não a disciplina (1Tm
1:20; Jr 7:28; 1Jo 2:18-19).
CONCLUSÃO:
Deus
espera que sejamos zelosos e fervorosos, tanto no
amor pelo próximo (Cl 3.14; 1 Pe 4.8)
como em nossa busca pela santidade e a pureza da igreja (Tt 2.14; Hb 12.14-17).
Certamente
os casos de disciplina sempre envolvem dor, demanda de tempo e desgaste
emocional. Há, porém o conforto de saber que Deus estará
operando durante todo o processo e que, por mais difícil que seja, é uma medida
necessária para que Cristo seja glorificado, a igreja seja aperfeiçoada e a
pessoa disciplinada seja completamente restaurada.
Pr. Nilton Jorge
Contatos pelo Telefone (55) 22 998746712
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