segunda-feira, 6 de maio de 2019

DIRETRIZES BÍBLICAS PARA A DISCIPLINA NA IGREJA


·      O tema “Disciplina na Igreja” sempre gera certo desconforto, pois ameaça os conceitos pós-modernos de individualismo, relativismo e liberdade de escolha que tem dominado nossa cultura nos últimos tempos. Por conta disto, muitos têm optado por relevar e permitir comportamentos pecaminosos dentro da igreja, evitando assim impopularidade e aborrecimentos.
·      Entretanto, a Bíblia, nosso guia de fé e prática, é bem clara com relação à necessidade da aplicação da disciplina na igreja local. E, alicerçados nos ensinos das Escritas Sagradas é que afirmados que a igreja não pode ignorar ou ser complacente com práticas contrárias à conduta cristã.
·      A igreja do Senhor é composta de pessoas chamadas para deixar o pecado e sair definitivamente do império das trevas Cl 1:13. O desejo de todo discípulo deve ser de manter a santificação a separação da iniquidade para imitar e honrar o Mestre que o resgatou. As pessoas que fazem parte da igreja de Deus foram chamadas “para ser santos” 1 Cor 1:2. O Senhor que nos chamou disse: “Sede santos, porque eu sou santo” 1 Pd 1:16.
·      Deus faz tudo para nos ajudar nas batalhas contra a tentação (Rm 8:31-39) e sempre oferece uma saída das ciladas do Adversário 1 Cor 10:13. Mesmo assim, falhamos. O apóstolo João escreveu aos cristãos quando disse 1 Jo 1:8: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” .
·      Uma igreja que respeita a vontade de Deus não pode se entregar à impureza. Deve agir agressivamente para ser pura e livre do pecado. Como?
  
I.                   A NECESSIDADE DA DISCIPLINA

·      O exercício da disciplina não é opcional dentro do contexto da Igreja local, e precisa ser encarada como um caminho indispensável em direção da vontade de Deus. Quando negligenciamos o que a Bíblia diz a este respeito estamos abrindo mão da nossa própria identidade perante o mundo e, por consequência, nos desprovemos da autoridade necessária para a pregação do Evangelho. A Igreja é essencialmente cristocêntrica, por isso não podemos aceitar aquilo que Cristo já condenou (Hb 10:28-29; 1 Co 6:15; 1Co 10:12).
·      É certo que ninguém gosta de ser disciplinado ou corrigido, mas a disciplina é antes de mais nada um gesto de amor e uma ferramenta utilizada pelo próprio Deus para ajudar seus filhos a se manterem no caminho direito (Hb 12:4-13; Ap 3:19; Ef 5:25-27).
·      Todo nós somos pecadores e vale ressaltar que a autoridade da disciplina não provêm daquele que a aplica, mas daquele que a ordenou: Jesus Cristo, o Senhor e Cabeça da Igreja (Ef 1:22-23; Hb 10:28-29).
·      Não nos cabe alimentar um espírito crítico e acusador. Mas Deus nos ordena a julgar “os de dentro” (1 Co 11:31-32 e Ap 2:2, 14-15, 20). Portanto, a igreja que não aplica a disciplina em seu meio está em desobediência direta à Palavra de Deus.

·      UMA IGREJA SEM DISCIPLINA OCORRE 5 COISAS:
1.    Sem disciplina na igreja o pecado se estabelece (1Co 5:1).
2.    Gera acomodação e orgulho (1Co 5:6).
3.    Contamina outros (1Co 5:7).
4.    Impede o fluir do Espírito Santo (Is 59:2; Rm 8:5).  
5.    Envergonha o Evangelho (Rm 2:23-24).

II.                O PROPÓSITO DA DISCIPLINA.

ð   A disciplina na igreja tem três principais objetivos:
·                     Glorificar o nome de Cristo. Cada igreja local é parte do corpo de Cristo aqui na terra, e manter este corpo limpo e purificado é a nossa missão (Ef 4:12-19).
·                     Conduzir o transgressor ao arrependimento e total restauração (2Co 7:9-10; Mt 18:15; 1Co 5:5).
·                     Preservar a reputaçãopureza da igreja (1Co 5:6-8; 1Tm 5:20; Tt 2:13-15; At 20:28-31).
ð   As Atitudes Necessárias Para Corrigir os Irmãos que Pecam.
Observemos alguns princípios essenciais:
● Devemos procurar o pecador e perdoar o irmão arrependido Lc 15:1-32. Esta parábola bem conhecida repreende a auto-justiça do irmão mais velho, que não desejava e não agia para incentivar a reconciliação do irmão desviado com seu pai. Quantos “cristãos” de hoje mostram a mesma falta de amor?
● Cada membro do corpo tem sua função para a edificação dos outros Ef 4:16. O trabalho de correção dos irmãos que pecam não se limita aos pastores. Cada parte deve se cooperar na edificação mútua para o bem do organismo todo.
● Os irmãos mais fortes devem restabelecer “as mãos descaídas e os joelhos trôpegos” Hb 12:12-17. Ajudemos os fracos e desanimados para que não caiam nas mãos do Inimigo.
● Uma igreja não deve ignorar nem tolerar o pecado Ap 2:12-17. A principal queixa de Jesus contra a igreja de Pérgamo foi a sua tolerância. Talvez exageraram no ensinamento de não julgar (pervertendo o sentido de Mt 7:1-5) a ponto de ignorar a necessidade de discernir entre o bom e o mau 1 Tss 5:21-22. É triste ver muitas igrejas hoje cheias de pecado por falta de amor, amor de Deus e amor ao próximo. As instruções de Deus a Ezequiel mostram a importância da correção dos pecadores Ez 3:16-21.

III.       TRÊS NÍVEIS GERAIS DE AÇÃO COM RELAÇÃO AO PECADO.

1) ENSINO E ADMOESTAÇÃO.
·      Tudo que contraria os mandamentos de Deus é pecado e, nesse sentido, não existe diferença entre pecado pequeno ou um grande pecado. Ambos agridem igualmente a santidade de Deus e quebram a nossa comunhão com Ele. Entretanto, em várias ocasiões a Bíblia demonstra que existe diferença entre pecados no sentido de uns serem mais graves que outros. Ex: cisco e trave (Mt 7:1-5), pecados que são e que não são para a morte (1 Jo 5:16), pecado menor e maior (Jo 19:11).
·      Podemos classificar como “pecados menores”, aqueles que são próprios da fraqueza humana, e que a grande maioria dos mortais comete diariamente, tais como aspereza, impaciência, murmuração, omissão, irritabilidade, ansiedade, falar demais, egoísmo, etc.
·      Tais atitudes são contrárias às instruções bíblicas, mas sem muita gravidade, por isso não requerem medidas disciplinares. A estas, a Bíblia nos incentiva a sermos compassivos e tolerantes uns com os outros, perseverando na instrução, e advertindo quando necessário (Rm 15:1; 1Pe 4:8; Cl 3:16; 2 Tm 3:16).

2) CONFRONTO E DISCIPLINA.
·      Se a transgressão cometida for grave, mas não a ponto de exigir o desligamento do rol de membros, a pessoa deverá receber o devido cuidado pastoral sem a necessidade de se levar o caso à igreja. Pecados como: fofoca, insubordinação, brigas, linguagem obscena, desonestidade, mau comportamento, adultério... Requerem algum tipo de disciplina, mas se a situação não tiver se tornado público deverá ser cuidado de maneira velada e sem escândalos, preservando-se a pessoa e a igreja (1Ts 5:14; 2Tm 2:24-26; 2Tm 4:14-15; Tt 1:9-11; Tg 5:20).
·      A pessoa que cometeu o pecado deve ser levada ao arrependimento e ser acompanhada de perto por um pastor ou líder espiritual, que a orientará no processo de restauração. Este processo poderá envolver: sessões de aconselhamento, estudos bíblicos, prestação de contas, remoção das funções ministeriais e da comunhão na Ceia, etc. Nestes casos, é essencial que a liderança da igreja aja em concordância, com discernimento, sabedoria, responsabilidade, sobriedade e em espírito de oração, tratando de cada situação individualmente.
·      No caso de pecados e ofensas entre duas pessoas (insultos, calúnia, furto, violação de contrato, etc), a Bíblia ordena que ambas procurem primeiramente resolver a questão entre si. Se a pendência for satisfatoriamente solucionada, o caso é encerrado e não há necessidade de se levar o assunto adiante (Mt 5:23-24; Mt 18:15-22).
·      Quando um irmão peca contra outro, devemos fazer o que Jesus mandou Mt 18:15-17
1. Falar em particular com a pessoa que nos ofendeu.
2. Se ela não aceitar a correção, devemos tentar de novo, levando uma ou duas testemunhas.
3. Se ela ainda não se arrepender, devemos levar o caso à igreja, que também deve repreender o ofensor. Se a pessoa for rebelde até esta última etapa, devemos nos afastar dela. Por outro lado, se o ofensor se arrepender, em qualquer momento, devemos perdoar e nos reconciliar, certos de que Deus, também, perdoa o arrependido.
Estas instruções de Jesus proíbem a prática comum de espalhar notícias dos erros particulares dos outros, sem primeiro falar com eles para ajudá-los Pv 20:19; 26:20-22.

ð   A Correção do Irmão que Cai no Pecado.

·      Quando sabemos de pecado na vida de um irmão, devemos agir. Os espirituais devem corrigi-lo com brandura Gl 6:1. Também sofremos com as fraquezas humanas, e devemos ser compreensivos na abordagem do pecador. Mas a nossa compreensão não justifica o pecado, e não deve se tornar tolerância ou aprovação. Ajamos com brandura, mas corrijamos!
● A conversão do irmão de seu pecado é a salvação de sua alma Tg 5:19-20; Pv 24:11.
● Há casos em que a correção pública é necessária 1 Tm 5:20; Gl 2:11-14. Alguns pecados públicos, se não corrigidos diante das outras pessoas, poderão levar outros ao mesmo erro. É desagradável, mas necessário, responder publicamente aos erros de alguns irmãos.

3) DESLIGAMENTO DO ROL DE MEMBROS.
·      Todo pecado deve ser corrigido, mas há casos específicos em que a Bíblia nos orienta a levar o caso para o conhecimento da igreja e a romper a comunhão cristã com o transgressor. É a forma de disciplina mais drástica e deve ser adotada apenas em situações igualmente drásticas (1Co 5:1-13; 2Jo 1:9-11; Tt 1:16; Tt 3:10-11; Gl 5:19-21).
·      Revelar à igreja a transgressão de um de seus membros não pode ser considerado, de forma alguma, uma “violação de segredos”. Nestes casos Deus ordena que declaremos à igreja o pecado cometido, não só para a oficialização pública da disciplina, mas para que todos orem pelo pecador, vigiando também a si mesmos (Mt 18:17; 1Tm 5:20).
·      Deve ser levado a este tipo de disciplina todo comportamento pecaminoso que causa dano à unidade, à integridade doutrinária e à pureza ou à reputação da igreja como um todo. Mesmo que a pessoa se declare arrependida, o pecado já se tornou público, portanto convém que o desligamento seja efetuado a fim de se preservar a imagem da Igreja e do Evangelho de Cristo.
·      Membros da igreja, que se dizem cristãos, mas são conhecidos publicamente por pecados tais como: imoralidade sexual, embriaguez, apostasia, estelionato, crimes contra a sociedade, etc, devem ser retirados da comunhão da igreja. Tal procedimento deve ocorrer após uma comunicação por parte do pastor da igreja ou de um líder espiritual com autoridade pastoral, e vir acompanhado de amor, admoestação e convite ao arrependimento.
·      Exemplos bíblicos de transgressões que devem ser disciplinadas com o desligamento:
·       Aquele que se recusa a abandonar o erro mesmo depois de ser exortado em amor várias vezes (Mt 18:16-17).
·       Pecados que trazem escândalo à igreja (1Co 5:1-13).
·       Os que ensinam doutrinas contrárias ao Evangelho (1Tm 1:20).
·       Os que causam divisões na igreja (Rm 16:17-18).
·       Aqueles que andam desordenadamente (2Ts 3:6-15).
·       Os que deixam de participar dos cultos, por um período prolongado (um ano, em média) e de forma deliberada, sem um motivo legítimo (Hb 10.24-25).
O desligamento de um membro da igreja em casos extremos é o cumprimento da ordem direta do próprio Cristo, que nos ensina a considerar o transgressor como “gentio” (a quem não era permitido entrar nos átrios sagrados do templo) e “publicano” (considerados traidores e apóstatas) - Mt 18:17; Rm 2:21-24; 1 Tm 1:20 e Tt 3:10-11.
O membro que é disciplinado com o desligamento perde seus privilégios como membro da igreja de participar da Ceia, atuar em um ministério ou votar nas assembleias. Cabe à liderança da igreja oferecer, à pessoa que foi desligada, um acompanhamento pastoral cuidadoso, com visitas, estudos bíblicos e atividades que contribuam para sua cura e restauração.
Obs: segundo firmado em Estatuto Social, sendo a Igreja local uma associação, tem todos os direitos éticos e legais de desligar um membro que tenha incorrido em alguma falta grave (acima citadas), numa conduta que esteja em desacordo com os preceitos bíblicos, após aprovação mediante votação em Assembléia Administrativa.

IV.             COMO TODA DISCIPLINA DEVE SER APLICADA.

·       Com amor (Jo 13:34-35; Rm 12:10; 1Jo 4:7-8).
·       Em espírito de mansidão e humildade (Gl 6:1; Fl 2:3).
·       De imediato, logo que o pecado é descoberto (Mt 5:25; Hb 13:13-15; Tg 4:17).
·       Mediante o testemunho de duas ou três testemunhas idôneas (Mt 18:16; 1Tm 5:19).
·       Sem parcialidade ou acepção de pessoas (Cl 3:25; Tg 2:9; 1Tm 5:21).

V.           CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES.

Disciplina é sempre um ato de amor.
É preciso perdoar sempre, mesmo quando não houver arrependimento. Mas perdoar não significa aceitar um determinado erro.
A igreja não deve desistir de quem foi disciplinado.
·      A disciplina precisa estar calcada em princípios e valores bíblicos e não em pensamentos humanos ou costumes culturais. Em alguns casos, o que pode ser entendido como pecado para uns pode não ser para outros. E necessário muito amor e discernimento espiritual para agir em cada caso.
·      Cuidar para que o ato disciplinar não seja, em hipótese alguma, fruto de partidarismo, legalismo extremo ou capricho. Milhares de pessoas, ao longo da história do Cristianismo, sofreram feridas profundas como resultado de terem sido disciplinadas injustamente.
·      O membro que foi disciplinado ou desligado do rol de membros terá sua reintegração aceita pela igreja logo após o término do processo de restauração, que envolve:
1)   Confissão (Tg 5:16).
2)   Arrependimento (Mt 3:8).
3)    Abandono do pecado (Rm 6:2-22).
4)   Mudança de atitude (Ef 4:20-32).
5)   E, em alguns casos, a restituição (Rm 13:7-8).
Infelizmente, algumas pessoas não estão prontas para aceitar a disciplina e, ao serem disciplinados decidem abandonar a igreja. Outros a rejeitam, acusando a igreja de discriminação ou injustiça. Entretanto, é o pecado que gera rebeldia e dureza de coração, e não a disciplina (1Tm 1:20; Jr 7:28; 1Jo 2:18-19).

CONCLUSÃO:
Deus espera que sejamos zelosos e fervorosos, tanto no amor pelo próximo (Cl 3.14; 1 Pe 4.8) como em nossa busca pela santidade e a pureza da igreja (Tt 2.14; Hb 12.14-17).
Certamente os casos de disciplina sempre envolvem dor, demanda de tempo e desgaste emocional. Há, porém o conforto de saber que Deus estará operando durante todo o processo e que, por mais difícil que seja, é uma medida necessária para que Cristo seja glorificado, a igreja seja aperfeiçoada e a pessoa disciplinada seja completamente restaurada.


Pr. Nilton Jorge
Contatos pelo Telefone (55) 22 998746712

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