segunda-feira, 23 de maio de 2022

SENDO VERDADEIROS

TEXTO: Mt 6:1-4

INTRODUÇÃO:

·      Depois de fazer a comparação entre a Sua doutrina e a lei de Moisés na interpretação que era dada pelos escribas e fariseus, o Senhor Jesus irá demonstrar como deve ser o comportamento de seus discípulos em relação ao próximo e a Deus e, para tanto, tratará de quatro temas, onde mostrará como é diferente o proceder dos Seus discípulos em relação aos demais homens, notadamente os escribas e fariseus, os “mais santos” dentre os filhos de Israel: a esmola, a oração, o jejum e o perdão.

·      O ensinamento de Jesus no Sermão do Monte tem o objetivo de fazer com que sejamos seguidores de Cristo comprometidos com os valores do Reino de Deus. Uma consequência de quem vive esses valores é buscar ser aprovado por Deus, e não aplaudido pelos homens, além de vigiar contra a hipocrisia (Lc 12.1).

·      Guarde isso, a motivação destina a sua oferta, a sua oração e jejum e vida. O texto não aborda o fato de o fazer em secreto ou em público, mais a maneira como se faz, com que motivação se faz.  

I. O ATO DE DAR ESMOLAS E A HIPOCRISIA


1. Definição de hipócrita. No grego, a palavra para “hipócrita” “hypokrites” significa “alguém que interpreta um papel, atuar”, “alguém que interpreta num palco, ou um ator”. diz respeito a “um ator que usa máscaras”. um personagem em uma obra teatral. Desse modo, agir como hipócrita, é fingir ser o que não se é, com o intuito de enganar: Lc 20:20 “E, trazendo-o debaixo de olho, mandaram espias que se fingiam de justos, para o apanharem em alguma palavra e o entregarem à jurisdição e poder do governador”.

Os religiosos da época de Jesus, profanavam a prática religiosa, transformando-a em peça de teatro, chegando ao cúmulo de atrair as multidões, que aplaudiam o espetáculo

·      O uso desta palavra no Evangelho de Mateus caracteriza o hipócrita como uma pessoa cujos atos pretendem impressionar os observadores (6:1-3,16-18); cujo foco está nos enfeites, e não nas questões centrais da fé; e cuja conversa espiritual esconde motivos corruptos. Em Mateus 6, o hipócrita está em contraste com a pessoa de fé, cujo relacionamento com Deus é “secreto”. 

·      Neste trecho do Sermão do Monte, o Senhor Jesus adverte contra a hipocrisia nas três principais atitudes religiosas do judaísmo:

a)   Dar esmolas (Mt 6.2),

b)   Orar (Mt 6.5),

c)    Jejuar (Mt 6.16).

·      Para o judeu, a esmola era um dos mais sagrados de todos os deveres religiosos. Para alguns destes dar esmola e ser justo eram uma e a mesma coisa. No Sermão do Monte, Jesus vai mais uma vez deixar claro que, não espera dos súditos do reino, atos puramente externos, sem essência, desprovidos da verdadeira motivação, marcados pela hipocrisia, acentuando o perigo da falsa espiritualidade.

·      Uma advertência contra a hipocrisia. O Senhor Jesus inicia exortando: Mt 6:1 “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens”. O termo guardai-vos advém do grego: “prosechõ” que significa: “deter a mente, prestar atenção a; tomar cuidado com; dar atenção, prestar atenção, acompanhar, tomar cuidado com; ser devotado a; levar em consideração”. O fato de sermos solicitados a nos guardar indica que, assim como devemos fazer melhor que os escribas e fariseus (Mt 5.20), evitando os pecados do coração, o adultério do coração (Mt 5.28), e o assassinato do coração (Mt 5.22), devemos igualmente manter e seguir a justiça do coração, fazendo o que fazemos a partir de um princípio interior e vital, para que possamos ser aprovados por Deus (Mt 5.16,20), e não para sermos aplaudidos pelos homens. Isto é, devemos vigiar contra a hipocrisia, que era o fermento dos fariseus, bem como contra sua doutrina (Lc 12.1). 

·      O grande desejo do hipócrita é sempre o de aparecer exteriormente, mas o problema é que o lado interno, sua verdadeira natureza, não é revelada. Ninguém sabe o que há no íntimo do ser humano; somente Cristo, que conhece a natureza humana (Jo 2.25). O cristão que deseja vencer a hipocrisia tem de ter seu coração preenchido pelo amor de Cristo. Com esse amor real no coração, não há como o cristão praticar uma coisa e interiormente ser de outra forma (Mt 5.48).

As três práticas da ética cristã. O apóstolo Tiago falou que a religião verdadeira tem como marca o serviço ao próximo, que também é um culto a Deus (Tg 1.27). Jesus deixa claro que nesse serviço cristão não podem faltar a oferta, a oração e o jejum.

·      Porém, no seu ensino, o propósito desses serviços piedosos não poderia ser deturpado, como fizeram os escribas e fariseus. Interessante observar que as três práticas da ética do serviço cristão envolvem nossos bens (oferta), nosso espírito (oração) e nosso corpo (jejum), e são direcionadas a Deus, ao próximo e a nós mesmos.

·      A oração, o jejum e a oferta são atos piedosos que, quando praticados com sinceridade e verdade, têm o reconhecimento do Senhor. Por outro lado, Jesus nos ensina que a religião sensacionalista e espetacular do dissimulado religioso perverte a piedade, afinal, sua intenção é somente enganar e buscar os aplausos humanos. Tal procedimento jamais é adotado por um seguidor de Jesus, pois sabe que a prática de atos justos é somente com a finalidade de glorificar a Deus.

II. AUXILIANDO O PRÓXIMO SEM ALARDE

1. Qual é a motivação do teu coração? A prática da generosidade para com alguém é bíblica e há tempos estava presente na Lei de Deus (Lv 23.10,11; 19.10; Dt 15.7-11; Jr 22.16; Am 2.6,7; Dn 4.27), como também nos ensinos de Jesus (Lc 6.36,38; Lc 21.1-4; Jo 13.29; Gl 6.2). O verbo hebraico para generosidade é gamal, que significa “resolver completamente, recompensar, repartir, fazer algo para alguém, agir generosamente”. Teologicamente, a generosidade expressa gratidão por algum benefício recebido.

·      É preciso, porém, entender que, às vezes, aparentemente uma pessoa pode demonstrar um ato de generosidade com motivos errados, pois a mão pode dar uma oferta, um presente, mas a motivação oculta do coração pode ser outraO crente deve buscar ser sincero na sua contribuição, fazendo isso na íntima satisfação de sua mente e no Espírito de Cristo, pois Ele sabe a motivação do seu coração quando estende as mãos para dar (Mt 9.4; 12.25; 22.18; Jo 16.19). 


·      O VERSÍCULOS 1 E 2 VAI REVELAR TRÊS SENTIMENTOS REPROVADOS NO REINO.  

a)   Exibicionismo: Mt 6.1-a “para ser visto pelos homens”. O termo hipócrita, conforme já vimos, refere-se à pessoa que faz boas obras só por aparência, não por   compaixão. Suas ações podem ser boas, mas seus motivos são maus. Embora os discípulos devam ser vistos praticando boas obras (Mt 5.16), eles não devem fazê-las, como objetivo de serem vistos (2Tm 3.5).

b)   Vangloria: Mt 6.2-b “para ser honrado pelos homens”. O ensino que fica claro, é que os súditos do Reino não devem realizar boas obras para glória pessoal, e sim, que glorifiquem ao Pai celestial (Mt 5.16; 1Co 10.31). A auto glorificação é um erro frontal, para quem quer viver a ética do reino os céus (Jo 5.44), e não condiz com quem nutre a verdadeira espiritualidade: Pv 27.2 “Seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estrangeiro, e não os teus lábios”.

c)    Recompensa puramente terrena: Mt 6.2-c “para receber o galardão dos homens”. Tal como Jesus o entendia, não pode duvidar-se que esta forma hipócrita de agir, tem em si certo tipo de recompensa. Três vezes Jesus repete a frase: Mt 6.2,5,16 “Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”. Jesus, portanto, quer dizer o seguinte: “Se você der esmolas para demonstrar sua generosidade, você obterá a admiração de seus semelhantes, mas isso é tudo o que você receberá como recompensa”. A força plena da afirmação de Jesus é que aquele que almeja e obtém o louvor dos homens, dá virtualmente um recibo: “Totalmente pago”. Não haverá nenhum outro galardão aguardando por ele no céu: Mt 6.2 “[...] não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus” e ainda, sofrerá de Deus penalidade (Mt 23.13,14).

2. A maneira de ofertar segundo Jesus. No ato de ofertar, devemos ter todo o cuidado necessário para não buscar louvores ou não louvarmos a nós mesmos. Quando ofertamos, não devemos “tocar trombetas”. É claro que a referência que Jesus fez a esse toque foi metafórica, que quer dizer tornar público. Quanto à forma correta de se ofertar, Jesus disse que isso deve ser feito de duas maneiras: primeiro, sem alarde público; segundo, essa doação deve ser voluntária e discreta.

“John Wesley, que era um cuidadoso estudante do texto grego e surpreendentemente ciente da importância da crítica textual, traduziu a primeira parte deste versículo [Mt 6.1] como se segue: ‘Atentem para não praticarem a vossa justiça perante os homens, para serem vistos por eles’. Traduções mais recentes como a (NTLH) apresenta o verso assim ‘Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros’. A tradução mais simples é: ‘Não ostentem a sua piedade’.

·      Jesus não disse que não deveríamos deixar que alguém visse as nossas boas obras. Ele já havia admoestado os seus discípulos: Mt 5.16 ‘Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus’. É com o motivo que Ele está lidando aqui. A frase significativa é: para serdes vistos por eles. Devemos buscar a glória de Deus, não a nossa própria”.

III. DEUS CONTEMPLA O BEM QUE REALIZAMOS.

1. O Deus que tudo vê. Um dos atributos divinos é a onisciência. Deus é descrito nas páginas das Sagradas Escrituras como aquEle que tudo vê. Para Ele não existe surpresa nem o desconhecido (Gn 14). Nada pode escapar da onisciência divina (Gn 16.13; Sl 139; Mt 10.30; Hb 4.13; Jo 21.17).

2. O Deus que recompensa. O nosso Deus contempla tudo, em especial o bem que fazemos. O escritor da Carta aos Hebreus diz que nosso Deus “não é injusto para se esquecer da nossa obra e do trabalho da caridade que foi mostrado para com o seu nome” (Hb 6.10; Mt 10.42; Jo 13.20). Já quando os homens aplaudem qualquer ação feita por outros homens, eles não conhecem a causa, o motivo que os impeliu a tal ação, pois veem somente aquilo que lhes foi manifestado exteriormente. O Senhor, pelo contrário, vê o que está no coração (1Sm 17), não necessitando de qualquer amostra exterior para chamar a sua atenção (Mt 6.4,6,18). O salvo em Cristo deve lembrar de que Deus irá recompensar cada um segundo de seu procedimento. Portanto, é sempre bom fazer o bem (Pv 3.27; Rm 2.7), lembrando de que aquele que sabe fazer o bem e não o faz, está pecando (Tg 4.17).

LIÇÕES A SEREM APLICADAS 

a)   Exerce a justiça da forma correta. Quando Jesus diz: Mt 6.3 “Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita”, quer significar que nossos motivos para boas ações, devem ser puros. É fácil dar com motivos mistos, fazer algo em favor de alguém se for beneficiado de alguma maneira. Isso significa que é errado ofertar abertamente? Todas as ofertas devem ser anônimas?

·      Não necessariamente, pois os cristãos da Igreja primitiva sabiam que Barnabé havia doado o valor recebido da venda de suas terras (At 4.34-37). Quando os membros da igreja colocavam seu dinheiro aos pés dos apóstolos, não o faziam em segredo. É

evidente que a diferença está na motivação interior. Vemos um contraste no caso de Ananias e Safira (At 5.1-11), que tentaram usar sua oferta para mostrar aos outros uma espiritualidade que, na verdade, nenhum dos dois possuía.

 

b)   Exerce a justiça pela motivação correta. Dar esmolas aos pobres, orar e jejuar eram disciplinas importantes para o judaísmo. Jesus não condenou essas práticas, mas advertiu que era preciso ter uma atitude interior correta ao realizá-las. Os fariseus usavam as esmolas como forma de obter o favor de Deus e a atenção dos homens, duas motivações erradas. Não há oferta, por mais generosa que seja, capaz de comprar a salvação, pois a salvação é um presente de Deus (Ef 2.8,9). Jesus diz que devemos revisar nossos motivos quanto a: a) generosidade (Mt 6.4), b) oração (Mt 6.6) e c) jejum (Mt 6.18). Não deve ser motivado pela popularidade e pelo aplauso vazio da multidão. Procuremos agradar a Deus, e desejarmos fervorosamente sua aprovação e certamente receberemos tesouros no céu (Mt 5.12; Lc 14.14).

 

c)    Exerce a justiça com o propósito certo. É tolice viver em função do reconhecimento humano, pois a glória do homem não dura muito tempo: 1Pd 1.24 “Porque toda carne é como erva, e toda a glória do homem, como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor”. O que importa é a glória e o louvor de Deus! É muito fácil dar por reconhecimento e louvor. Para nos assegurar de que nossos motivos não são egoístas devêssemos realizar nossas boas obras quieta e silenciosamente, sem esperar recompensa (Cl 3.22,23). Estas obras não devem ser egocêntricas, a não ser teocêntricas, e não para nos fazer luzir bem, a não ser para fazer a Deus luzir bem. Jesus não disse Mt 5.16: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”. É com o propósito que ele está lidando aqui, devemos buscar a glória de Deus, não a nossa própria (Rm 11.36).

 

d)   Não exerce a misericórdia por ostentação. O verbo “ostentar” significa: “mostra-se; exibir-se com aparato; alardear”. Os fariseus eram peritos em fazer coisas para serem apresentados, e Jesus reprovou esta atitude (Mt 6.2,5,18). Lucas nos mostra que, Barnabé vendeu sua propriedade para depositar aos pés dos apóstolos, para assistir aos necessitados da igreja (At 4.36,37); Ananias e Safira, também venderam sua herdade e depositaram aos pés dos apóstolos (At 5.1-11). A obra era praticamente a mesma. No entanto, a diferença entre eles era a motivação. Enquanto Barnabé foi inspirado pelo amor; Ananias e Safira, pela ostentação e por isso foram severamente punidos (At 5.9,10).


e)    É devidamente recompensada. O Senhor Jesus deixa claro que, quando as boas obras são realizadas pelas razões certas, ainda que não vista pelos homens, serão devidamente recompensadas: Mt 6.3,4 “Mas, quando tu deres esmola [...] teu pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Há promessa de retribuição para os que vivem uma vida justa e piedosa, diante de Deus e dos homens e por tudo que realizam para a glória de Deus (Mt 10.41,42; 16.27; Mc 9.41), como afirma o Senhor: Ap 22.12 “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo para dar a cada um segundo a sua obra”.

CONCLUSÃO:

Por meio de Jesus, ficamos cientes de que Ele deseja que andemos na verdade, sejamos honestos e que a nossa justiça ultrapasse a deles (Mt 5.20) em todos os aspectos, sem jamais buscar a exibição. A sinceridade de coração é uma marca distintiva do autêntico discípulo de Cristo, sendo necessário este ser verdadeiro, no que diz respeito às suas intenções, bem como às suas práticas ou ações religiosas.

Pr. Nilton Jorge (22) 998746712 Whatsapp


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão lidos pelo autor, só serão respondidos os de grande relevancia teológica, desde já agradeço pela visita.